Saturno
Saturno (em latim: Saturnus) era o deus romano da geração, dissolução, abundância, riqueza, agricultura, tempo, renovação periódica e libertação. Em desenvolvimentos posteriores, também se tornou o deus do tempo. Equivale ao deus grego Cronos. É um dos titãs, filho do Céu e da Terra. Com uma foice dada por sua mãe, mutilou o pai, Caelus ou Urano, ficando com o poder entre os deuses.
Expulso do céu pelo seu filho Júpiter (Zeus), refugiou-se no Lácio. Lá, exerceu a soberania e fez reinar a idade do ouro, cheia de paz e abundância, tendo ensinado, aos homens, a agricultura. No Lácio, criou uma família, vindo a ser pai de Pico.[carece de fontes]
Os romanos, que, segundo outras tradições, atribuem a origem de Roma a Saturno, construíram-lhe um templo e um altar à entrada do Fórum, no Capitólio. Atribui-se, ainda a Saturno, a criação de divindades como Juno ou Hera e de heróis como Rómulo. O sábado é o dia consagrado a Saturno.
O Saturno itálico é representado tanto nas moedas como nas pinturas de Pompeia - testemunho ambivalente da sua atividade agrária e da sua identificação com o castrador Cronos - com a serpente na mão. Um baixo-relevo do museu do Capitólio, réplica de um modelo grego, apresenta-o como Cronos, sentado no trono, recebendo, das mãos da sua mulher (por vezes chamada Ops ou Cíbele nos textos latinos), a pedra envolvida em panos que ele confundiu com Júpiter recém-nascido.
O Saturno africano é um homem de barba curta, penteado com calátides. Mas o deus chega a figurar, na mesma estela, com três aspetos distintos: deus barbudo com a foice, jovem deus solar com a cabeça ornada de raios e jovem deus lunar coroado com o crescente. Também tinha, como filho, Neptuno.
Saturno tinha duas esposas, que representavam diferentes aspetos do deus. Uma delas era Ops, que equivalia à grega Reia. O nome ops significa "abundância, riqueza, recursos". A associação com Ops, no entanto, é considerada um desenvolvimento posterior, pois esta deusa originalmente era esposa do deus Consus. Anterior foi a associação de Saturno com Lua ("dissolução, destruição, afrouxamento"), uma deusa que recebia as armas ensanguentadas dos inimigos derrotados nas guerras.
Os romanos, com receio de que o deus abandonasse o seu lugar (na República Romana, depositava-se, no seu templo, o tesouro do Estado), prenderam a sua estátua com faixas de lã e não as tiravam senão quando se realizavam as Saturnais. Com efeito, estas festas populares, celebradas anualmente por volta do solstício de inverno - daí a ligação deste deus com o signo de Capricórnio na astrologia - pretendiam ressuscitar, por um certo tempo, a época maravilhosa em que os homens tinham vivido sem contrariedades, sem distinções sociais, numa paz inviolada. Era uma semana de repouso livre e feliz, durante a qual todas as atividades profissionais eram suspensas - até as campanhas militares eram interrompidas - e realizavam-se inúmeros banquetes, onde os cidadãos substituíam a toga pela túnica e serviam os seus escravos, que, desobrigados das suas funções habituais, falavam sem papas na língua.
Estas festividades desembocavam, inevitavelmente, em grandes orgias. O culto de Saturno não se propagou com a mesma amplitude em todo o mundo romano, tendo sido objeto de um fervor excepcional junto das populações da África. "Dominus Saturnus" representa, para estas, o deus fertilizador da terra e, igualmente, o sol, assim como a lua. Espécie de divindade suprema do céu, instalada muitas vezes em substituição dos deuses fenícios, o Saturno africano foi, como Moloque, apreciador de vítimas humanas. Estas práticas cessaram sob o Império Romano e foram substituídas por libações e sacrifícios de touros e de carneiros.
A natureza ctónica do deus o conectava com o mundo subterrâneo e o seu governante, Dis Pater (identificado com Plutão), que também era o deus das riquezas escondidas.
Em fontes do século III em diante, diz-se que Saturno recebia oferendas (munera) dos gladiadores durante, ou próximo, às Saturnálias. Estes combates dos gladiadores, que duravam dez dias durante o mês de dezembro, eram apresentados pelos questores e patrocinadas por fundos provenientes do tesouro de Saturno.
A prática da munera pelos gladiadores era criticada pelos apologistas cristãos como uma forma de sacrifício humano. Embora não haja evidência desta prática durante a república romana, as oferendas dos gladiadores levaram à hipótese de que o culto original de Saturno incluía oferendas humanas. Macróbio diz que Dis Pater era saciado com cabeças humanas e Saturno era saciado com vítimas humanas. Os bonecos que eram trocados durante a Saturnália podem ter sido substitutos dos sacrifícios humanos.
Segundo Caio Júlio Higino, liberto de Augusto e responsável pela biblioteca Palatina, Saturno, quando perseguia Júpiter pela Terra, deitou-se, transformado em cavalo, com a filha de Oceano, Filira (Philyra), que, por isso, deu, à luz, o centauro Quíron, de quem se diz ter inventado a arte da medicina. Filira, depois de ver que tinha dado, à luz, uma forma desconhecida, pede, a Júpiter, que lhe mude a aparência. Então, na árvore filira, isto é, em tília, foi transformada.
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